Os extremos nunca se tocaram

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Nada mais distante do que os extremos do espectro político. E essa diferença radical começa logo no lado mais forte do terreno político: os afetos e as paixões. O que mobiliza a dita “extrema-esquerda” é o amor e o desejo de libertação. O justo oposto do fascismo, que se alimenta do ressentimento, do ódio e do desejo de vingança ou de revanche. A “extrema-esquerda” vive da paixão da soma que é permanentemente constituída pela multidão como expressão do seu poder. Do lado da extrema-direita apenas a paixão pela morte e pela subtração. O fascínio dos fascistas pelo poder é o fascínio pela dominação do outro; já a relação da esquerda com o poder expressa a vontade de incremento do poder de todos a partir das suas respetivas singularidades. O que motiva a esquerda é o amor, a procura incessante pelo outro enquanto ser de possibilidades múltiplas, enquanto portador de mundo(s) em que é possível somarem-se vantagens e interesses e não subtrair. Não a hierarquia, a disciplina estatal e/ou militarizada, à imagem dos reacionários, mas a liberdade que se procura por meio do reconhecimento da igualdade de todos perante todos. Se o fascismo representa, à maneira de um Toni Negri, a destruição do ser, a esquerda, pelo contrário, é a alegria, o regozijo, por aquilo que se foi capaz de construir coletivamente. A extrema-direita é a expressão política das “paixões tristes” (Espinosa) – o desalento, o desespero, a frustração… — ao contrário das paixões alegres que sempre abrem o mundo à esperança. Nada pode ser mais distante politicamente do que a extrema-direita em relação à esquerda radical (radical em relação ao status quo liberal, claro está). E a reviravolta histórica da Front Populaire face à Rassemblement National é a demonstração prática de que não estamos a falar do mesmo povo ou da mesma comunidade política.

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