Venham Mais Cinco: Manifesto 1.º de Maio 2024

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As celebrações do séc.21 repousam na sua grande maioria sobre cadáveres do passado. O 1.º de Maio não é excepção. Em 1886, os protestos de trabalhadores em Chicago são desmobilizados a tiro pela carga policial, deixando uma dezena de mortos, centenas de feridos e às quais se seguiram detenções em massa e julgamentos injustos que levaram 4 pessoas à forca. O lema era 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer, 8 horas de descanso. A luta era pela quantidade de horas de trabalho.

Mais de um século depois, a luta continua, quer pela quantidade quer pela qualidade. Ansiamos hoje por uma semana com 35 horas de trabalho repartidas por 4 dias. Mais do que sobreviver, a vida é feita para ser vivida, além de trabalhada.

Na realidade, a luta é constituída por um ror situações a serem corrigidas, melhoradas ou até exterminadas. Somos sensíveis a todas elas mas hoje focar-nos-emos naquelas que nos parecem inadiáveis, incontornáveis e inadmissíveis.

Não nos esqueçamos que estamos em 2024 e que hoje, em Portugal, existem pessoas que foram enganadas, foram traficadas e estão neste preciso momento a serem violentadas em condições de trabalho e de habitação próximas da escravatura – pessoas vítimas de tráfico humano, migrantes que não procuram melhores condições de vida mas sim condições de sobrevivência. É triste, é desconcertante mas além de tudo, é inadmissível.

Essas pessoas precisam da ajuda de todas/es/os nós, o nosso silêncio é tão ou mais cruel quanto as mãos criminosas que as subjugam, o nosso silêncio é sinónimo de cumplicidade. Devemos denunciar estas situações que infectam quer o tecido urbano quer o tecido rural, sem qualquer tipo de medo ou de pudor. Devemos actuar, já!

Não nos esqueçamos que estamos em 2024 e que hoje, em Portugal, as assimetrias existentes entre mulheres e homens no mercado de trabalho mantém-se em vários níveis, desde a remuneração por hora de trabalho aos tipos de ocupação. As implicações são drásticas e significam que as mulheres acabam por obter reformas e subsídios de desemprego proporcionalmente mais baixos, deixando-as em situações de maior fragilidade financeira. Esta matemática social é triste, é desconcertante mas além de tudo, é inadmissível. Devemos mudar esta equação injusta o quanto antes. Devemos actuar já!

Estas assimetrias conduzem inexoravelmente para desequilíbrios de poder, aumentando a vulnerabilidade das mulheres, as quais são o alvo mais frequente de assédio sexual nos locais de trabalho. Esta animalidade é triste, é desconcertante mas além de tudo, é inadmissível. Devemos denunciar sem qualquer tipo de medo ou de pudor. Devemos actuar, já!

Não nos esqueçamos que estamos em 2024 e que hoje, em Portugal, a família tem cada vez menos tempo para o ser, que a mulher continua a ser o principal pilar do trabalho não remunerado do trabalho doméstico e familiar, o que implica jornadas extensas para além do exercício profissional. Citando Silvia Federici: “O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago”. Estas correções só dependem de nós, das nossas decisões enquanto indivíduos e colectivos, da nossa mudança de comportamentos em prol de uma sociedade mais justa, equilibrada e saudável.

Queremos deixar uma palavra de carinho aos profissionais da cultura e da educação, sectores onde devemos apostar todas as nossas fichas sem qualquer tipo de medo ou pudor, para que a revolta de Haymarket não tenha sido em vão, pois as bases fundamentais da esfera humana são semeadas na mais tenra idade e colhidas geração após geração.

Hoje celebramos os direitos conquistados celebrando os que ainda havemos de conquistar. Mas hoje não nos esqueçamos de celebrar os nossos deveres que incluem responsabilidade, fraternidade e proatividade.

E não nos esqueçamos que a reivindicação continua a ser a nossa maior arma pacífica contra as injustiças que sofremos no dia a dia. E exigimos que as nossas reivindicações sejam tratadas pacificamente, que as nossas manifestações não sejam alvo de qualquer tipo de violência, a qual não admitiremos, nunca!

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