Diários de uma extinção I

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Vivemos o fim do mundo às parcelas, às prestações como em tudo na nossa vida capitalista, em lenta mas irresistível agonia. Talvez esta marcha para o fim da espécie se prolongue por décadas, quem sabe por séculos. Uma senhora já idosa evocava-me há dias uma profecia qualquer de que não passaríamos do segundo milénio depois de Cristo.

Independentemente dos fundamentos de tal profecia creio que está certa, ou, melhor, que se irá revelar certa. Quando um filósofo como Fredric Jameson nos dizia ser mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo punha-se do lado do realismo político; no fundo estava já a capitular a esse mesmo realismo (o qual na verdade não passa de ideologia travestida de discurso sobre a necessidade, o inexorável, o fim da história). Se nos é mais fácil imaginar o fim do mundo na forma de colapso ambiental do que o fim do modo de produção capitalista é simplesmente porque o fim do mundo está incrustado a este modo de produção; que não conseguimos de facto imaginar que o capitalismo nos trará um futuro radiante e, no entanto, continuamos a achar que ele é o melhor que nos aconteceu em todos estes milénios de existência humana.

A lógica do sistema é caminhar para a sua autodestruição; mas, nessa marcha suicida, arrastará consigo nada menos do que a espécie humana colocando em causa as condições de sustentabilidade ambiental que garantem a sobrevivência da mesma. Se não conseguimos imaginar outro fim para o capitalismo que não o fim do mundo é porque estamos totalmente viciados na lógica do capital. Se o capitalismo traz incrustado à sua forma de organização social o apocalipse então qualquer forma de resistência e de construção da alternativa a partir da lógica do capitalismo está fadada a cavar a sua própria sepultura. Não é possível projetarmos uma alternativa ao mundo burguês, uma alternativa ao apocalipse, sem nos situarmos fora das instituições burguesas.

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