À Conversa sobre Livros com João Pedro Anjos

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Fonte inesgotável de conhecimento e prazer,  poderosa ferramenta de influência e transformação política, a leitura e a liberdade intelectual chegam até a ser censuradas por regimes repressivos, ditatoriais e totalitaristas, levando a que a informação, o espírito crítico sejam negados a grande parte das pessoas. 

Em pleno século XXI, assistimos cada vez mais a discursos de ódio, à propagação do medo e de conteúdos de desinformativos quanto a questões de género e sexualidade. Na Europa, EUA, Brasil e um pouco por todo o mundo, assiste-se à criação de campanhas de proibição de livros de temática LGBTQIA+. Com base em justificações de “promoção da homossexualidade” ou da “propaganda da ideologia de género”, grupos ideológicos conservadores mostram atentar a autodeterminação, a liberdade de expressão, a autodescoberta e visibilidade das experiências de pessoas LGBTQIA+.

Recordando a célebre frase de Oscar Wilde, preso numa altura em que a homossexualidade era considerada como vício e decadência, diria: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros ou são bem escritos ou não.”

Reconhecendo a importância da leitura e da educação para as temáticas de igualdade e não discriminação, pretendemos conhecer as estantes Queer e Feministas de algumas personalidades portuguesas. De forma a partilhar novos mundos que os livros encerram, questionamos:

Qual o livro que mais te marcou/influenciou pessoal e profissionalmente?

O livro que me impactou profundamente tanto pessoal quanto profissionalmente foi “A Little Life”, de Hanya Yanagihara. Para quem não conhece, é um romance emocionalmente intenso e lindamente escrito que investiga a vida de quatro amigos de faculdade que navegam pelas complexidades da vida adulta na cidade de New York. No entanto, foi Jude St. Francis e a sua jornada angustiante que deixou uma marca gigante na minha vida.

A nível pessoal, “A Little Life” serviu como uma exploração comovente de resiliência, trauma e do poder duradouro da amizade. A profundidade do retrato de Yanagihara das lutas e triunfos de Jude ressoou em mim de uma forma que poucos outros livros conseguiram. A exploração da narrativa sobre a dor, a cura e a capacidade humana de força tem sido uma fonte de reflexão, levando-me a considerar as minhas próprias experiências e as dos outros com nova empatia e compreensão.

Profissionalmente, o romance influenciou a minha perspectiva sobre resiliência, perseverança e espírito humano – qualidades essenciais em qualquer carreira. As jornadas das personagens de “A Little Life” destacam a importância da empatia, dos sistemas de apoio e do impacto da história pessoal nos empreendimentos profissionais. No meu trabalho, encontro-me a aproveitar as lições aprendidas com Jude, lembrando-me da força que pode emergir até mesmo dos cantos mais sombrios da experiência humana.

A capacidade de Yanagihara de criar uma narrativa que é ao mesmo tempo comovente e edificante encorajou-me a enfrentar os desafios da minha vida pessoal e profissional com um senso renovado de compaixão e determinação. “A Little Life” não é apenas um livro; é uma exploração poderosa da condição humana que continua a moldar a minha visão do mundo e a influenciar as minhas ações muito depois de ter virado a página final.

Algum autor/a com que te identificas mais e que segues há mais tempo?

Sem dúvida, o autor com quem sinto mais forte identificação e que sigo há já algum tempo é Adam Silvera. A exploração de Silvera das complexidades das relações humanas, da identidade e das inúmeras emoções que acompanham a experiência da vida toca nas minhas próprias reflexões sobre a minha própria vida. Os seus romances, como por exemplo “More Happy Than Not” e “They Both Die at the End”, mergulham em temas de amor, perda e autodescoberta de uma forma que parece ao mesmo tempo identificável e profundamente pessoal.

Adam Silvera não é apenas um autor cujos livros li; é um companheiro literário da minha jornada de autodescoberta e compreensão. Acompanhar o seu trabalho tornou-se mais do que uma busca literária; é uma experiência pessoal e enriquecedora que continua a moldar a minha perspectiva de vida e literatura.

Qual a leitura que acompanhas e recomendarias aos nossos leitores?

Um livro que tenho seguido e que recomendo é “Giovanni’s Room”, de James Baldwin. É um romance que leva os leitores a uma exploração íntima da identidade, do amor e das expectativas sociais.

A prosa de Baldwin é eloquente e comovente, atraindo os leitores para o mundo complexo do protagonista, David, enquanto ele luta com sua própria sexualidade e normas sociais em Paris dos anos 50. O romance transcende o seu contexto histórico, abordando temas de alienação, autodescoberta e o profundo impacto das expectativas sociais na identidade pessoal.

Recomendo este livro não apenas pelo seu mérito literário, mas também pela sua capacidade de desencadear conversas significativas sobre identidade e amor. “Giovanni’s Room” tem a capacidade de ampliar perspectivas e fomentar empatia, tornando-se uma leitura valiosa e impactante para quem busca uma experiência literária profunda.

João Pedro Anjos nasceu em Lisboa, Portugal, em 1992. Crescendo nas encantadoras ruas de Lisboa, esteve rodeado pela rica cultura e história da cidade, que mais tarde se tornaria uma profunda fonte de inspiração para a sua criatividade.
Durante os primeiros anos escolares do Ensino Básico, João Pedro descobriu o gosto pela escrita através da música elaborando inúmeras canções, não por fama ou fortuna, até porque nunca foram lançadas para o grande público.
Um dos marcos mais significativos na vida criativa de João Pedro foi a criação de um script de um musical intitulado “O sonho da Música”. Este guião ganhou vida em 2015, quando foi apresentado na vibrante cidade do Porto no Teatro Sá da Bandeira.
Contudo, João Pedro não se ficou pela música e pelo teatro. Impulsionado por uma busca pessoal para alcançar uma das 100 coisas que tem na sua bucket list, embarcou na ambiciosa jornada de escrever um livro. O resultado de sua determinação foi “A vida são 60 segundos”.
Hoje, aos 30 anos, João Pedro Anjos aprimorou as suas capacidades como escritor, e continua a faze-lo diáriamente visto que está mais determinado do que nunca a continuar o seu percurso criativo.

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