À Conversa sobre Livros com Vicente Alves do Ó

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Fonte inesgotável de conhecimento e prazer,  poderosa ferramenta de influência e transformação política, a leitura e a liberdade intelectual chegam até a ser censuradas por regimes repressivos, ditatoriais e totalitaristas, levando a que a informação, o espírito crítico sejam negados a grande parte das pessoas. 

Em pleno século XXI, assistimos cada vez mais a discursos de ódio, à propagação do medo e de conteúdos de desinformativos quanto a questões de género e sexualidade. Na Europa, EUA, Brasil e um pouco por todo o mundo, assiste-se à criação de campanhas de proibição de livros de temática LGBTQIA+. Com base em justificações de “promoção da homossexualidade” ou da “propaganda da ideologia de género”, grupos ideológicos conservadores mostram atentar a autodeterminação, a liberdade de expressão, a autodescoberta e visibilidade das experiências de pessoas LGBTQIA+.

Recordando a célebre frase de Oscar Wilde, preso numa altura em que a homossexualidade era considerada como vício e decadência, diria: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros ou são bem escritos ou não.”

Reconhecendo a importância da leitura e da educação para as temáticas de igualdade e não discriminação, pretendemos conhecer as estantes Queer e Feministas de algumas personalidades portuguesas. De forma a partilhar novos mundos que os livros encerram, questionamos:

Qual o livro que mais a marcou/influenciou pessoal e profissionalmente?

Acho que livro que teve mais impacto na minha vida foi um livro que perdi o rasto e o título. Sei que tratava de veterinário e do mundos dos cavalos. Pertencia ao meu avô materno e foi o primeiro livro que li de fio a pavio. A partir desse prazer e deslumbramento, inscrevi-me na biblioteca municipal de Sines e comecei a descobrir a literatura.

Algum autor/a com que se identifica mais e que segue há mais tempo?

Essa pergunta é muito difícil porque estamos sempre a descobrir novos escritores e escritoras. Mas posso dizer que o autor de quem tenho mais livros é a Marguerite Yourcenar e o Julian Barnes.

Qual a leitura que acompanha e recomendaria aos nossos leitores?

Neste momento preciso estou a começar o romance do Francisco Camacho, o “Monte do Silêncio”. O Francisco é escritor e editor e não lançava um romance há 10 anos e por isso um bom regresso.

Na sinopse de “Que a Vida Nos Oiça”, livro que lançara em janeiro deste ano, partilha que o processo de escrita colocou em causa as suas próprias raízes. De que forma esta biografia incitou a sua descoberta pessoal e contrasta com o seu passado?

Bem, o romance ” Que a vida nos oiça” não é uma biografia. É uma ficção. Mas quando digo que pode colocar em causa as raízes, isso prende-se com o sempre e presente cruzamento que um escritor faz entre a sua vida e a sua obra. Acho que todos os escritores são assim. Uns mais que outros. Mas a verdade é que a experiência humana, o acto de vivermos é que nos dá a amplitude e a vastidão da condição humana para inventar histórias que bem ou mal são reflexo do que vivemos.

Vicente Alves do Ó nasceu em 1972, na cidade de Setúbal. Descobriu a literatura em casa dos avós no Alentejo e o cinema nos clássicos a preto e branco que passavam na RTP2. Dedicou-se ao teatro, à poesia e às curtas-metragens ao longo da adolescência até que assinou o primeiro argumento de cinema em 2000.   Mudou-se para Lisboa e desde então tem dividido a sua actividade pela escrita e realização de filmes como “Florbela”, “Al Berto”, “Golpe de Sol” e “Amadeo”, pelo teatro com “Variações de António” sobre a vida de António Variações e a literatura com dois romances “Marilyn à beira-mar” e “Florbela, Apeles e eu”. Em Janeiro de 2023 lançou  “ Que a vida nos oiça” o seu terceiro romance.

Artigo publicado em Leituras Queer

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