Santander: pressões e assédio para forçar despedimentos

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A administração do Santander Totta está a recorrer a pressões ilegítimas e a práticas de assédio dirigidas a centenas de trabalhadores e trabalhadoras, para impor o seu plano de despedimentos. Recebemos várias dezenas de denúncias de trabalhadores vítimas destas práticas, com relatos detalhados e que são coincidentes entre si, descrevendo uma estratégia sistemática e deliberada, aplicada ao longo de vários meses, para condicionar e quebrar a resistência de quem não aceita a proposta para rescisão por mútuo acordo. São testemunhos chocantes, maioritariamente de profissionais com vários anos de experiência, que são afastados dos seus postos de trabalho nos balcões, colocados sem funções ou com tarefas repetitivas e sem objectivo real, sob a permanente ameaça de despedimento em piores condições.

Recorde-se que o Santander anunciou, no final do passado mês de junho, um “plano de reestruturação” que prevê o despedimento de 685 trabalhadores. No entanto, estas práticas começaram ainda em 2020, quando a administração deu início a um plano agressivo de redução de pessoal, invocando a necessidade de ajustar a atividade devido à pandemia e à digitalização dos processos. Embora anunciado como um plano voluntário e com “as melhores condições de mercado”, na verdade, conforme é descrito nos testemunhos e é confirmado pela Comissão de Trabalhadores, o processo foi conduzido de forma a pressionar os trabalhadores a aceitarem a rescisão por mútuo acordo.

Os testemunhos revelam que a estratégia passou pela individualização e isolamento dos trabalhadores. Em regra, os trabalhadores incluídos no processo, a grande maioria com mais de 20 anos de trabalho, foram confrontados com a convocatória para uma reunião com responsáveis do departamento de recursos humanos do banco, por norma de forma presencial. Nessa reunião, com a presença de advogados ao serviço do Santander, os trabalhadores eram surpreendidos com a informação de que “o banco já não conta com eles” e “que já não são necessários”. Os relatos descrevem, em regra, que os trabalhadores eram dispensados de se continuar a apresentar no trabalho, convidados a passar uma semana em casa para pensar na proposta. Para forçar a aceitação do suposto acordo, os testemunhos descrevem o tom de ameaça logo neste primeiro contacto, com os responsáveis do banco a assegurar que “a próxima proposta não será tão boa” e que o despedimento vai mesmo concretizar-se.

Alguns testemunhos descrevem mesmo situações em que, de modo a criar um clima de condicionamento para os trabalhadores, o Santander chegou mesmo a convidar uma empresa externa de recursos humanos para estar presente no edifício, para supostamente ajudar na procura de um novo emprego.

Perante a recusa, a administração seguiu o caminho da pressão e do assédio. Os relatos descrevem que estes trabalhadores foram simplesmente afastados das suas funções e separados dos restantes colegas, deixando de constar da estrutura funcional dos balcões, apesar de terem funções específicas e, muitas vezes, um trabalho reconhecido há décadas. Além do isolamento compulsivo, muitos ficaram sem qualquer trabalho atribuído, apesar dos contactos insistentes com as chefias. Outros foram, apesar de anos de trabalho diferenciado, obrigados a fazer tarefas inúteis e repetitivas – vários testemunhos falam numa forma de assédio comum, que consta em atribuir como tarefa contatar listas de centenas de clientes, para atualização dos dados; terminada a tarefa, a mesma lista era distribuída novamente.

Em muitos casos, estes trabalhadores que recusaram o acordo forçado pela administração foram colocados em backoffice ou em caves, excluídos de toda a atividade das equipas; noutros casos, passaram a teletrabalho como forma de retaliação, apesar de todos os outros trabalhadores continuarem nas suas funções e de forma presencial. Como forma premeditada de confirmar o afastamento, vários testemunhos relatam a convocatória para reuniões de equipa, em que são colocados sozinhos em “salas” diferentes dos restantes colegas.

Vários testemunhos relatam os efeitos destas práticas inaceitáveis, descrevendo o brutal desgaste emocional e as consequências para a saúde, com evidente degradação da qualidade de vida. A maioria já com percursos profissionais longos, além do desânimo e da sensação de injustiça depois de anos de dedicação ao banco, há um forte receio de perder o emprego e de ficar subitamente sem alternativa de rendimento.

Com estes métodos inaceitáveis e à margem da lei, segundo a Comissão de Trabalhadores, a administração do Santander conseguiu afastar 730 trabalhadores do banco. O plano anunciado recentemente para o despedimento de mais 685 trabalhadores é dirigido àqueles que, apesar de meses de pressões e assédio, não assinaram o suposto acordo para rescisão. Assim, o objectivo do Santander é concretizar um despedimento de mais de 1400 trabalhadores, em plena pandemia e apesar de ter apresentado lucros de cerca de 300 milhões de euros o ano passado. Apesar do discurso oficial da administração, este ajustamento brutal tem como único objetivo afastar trabalhadores com direitos e substituir por externalização e trabalho precário. Conforme denunciado pela Comissão de Trabalhadores e descrito em vários relatos, muitas das funções desempenhadas pelos trabalhadores já despedidos ou colocados à margem estão a asseguradas por prestadoras de serviços ou outras empresas do grupo, com recurso a trabalho precário e salários baixos.

O Bloco de Esquerda já requereu, com caráter de urgência, a audição no parlamento da Comissão de Trabalhadores e do Presidente da Comissão Executiva, Pedro Aires Coruche Castro.

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