25 de Abril: Discurso de Carolina Gomes na sessão solene da Assembleia Municipal de Viseu

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Saúdo todas as pessoas aqui presentes.
Com um especial cumprimento para a a casa que nos acolhe, este lugar de cultura.
Saúdo e exalto ainda todas e todos aqueles que se envolveram na luta contra o fascismo e a ditadura do Estado Novo e se empenharam pela democracia social e laboral e pela implementação de um Estado Social.
Que este seja para todas as pessoas um quinquagésimo dia-lindo, de muitos outros por vir.

[50: poema-discurso]

50 anos desse dia que definiu o conceito de liberdade

sou herdeira das memórias desse existir livre
da possibilidade de libertar a família da miséria

da pobreza
dada por congénita

sou a primeira da família a estudar além da quarta classe
ou do segundo ano
sou mulher

não SERIA-assim sem o dia de hoje há 50 anos

hoje o dia é festa – sem dúvida – mas é lembrança:

nada é garantido!
e o 25 de Abril ainda não acabou

não é uma efeméride gravada na história

:é a seiva
com que se escreve a história dos dias de hoje
está em pleno efeito
está por totalizar
é para defender
é para não deixar recuar

é um sonho para tornar real em permanência

Abril não tem donos
tenho ouvido várias vozes dizer. não tem.
donos só os que se sugam isto tudo

Batendo as asas pela noite calada

Vindo em bandos com pés veludo o Abril?

o Abril
:é de todas as pessoas :é nosso

nós que somos a memória viva do passado e os corpos que fazem o amanhã

como foi dos que deram a vida
e das vidas que foram roubadas.

Abril é também o fim da guerra colonial e do colonialismo territorializado

que se vai desfazendo lentamente nas memórias

Abril foi o 25 de 1974 o 25 de 1975

o nosso contrato coletivo:

“A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”

Abril são conquistas
e o prólogo de um horizonte-possível

:saúde que cuida o viver de todas as gentes :educação que arma todos os espíritos :direitos para quem dá a força ao trabalho :justiça social e livre existir

:democracia e poder popular :habitação (ainda) por realizar :cultura que rasga

através das linhas azuis da censura nascem palavras de liberdade

Por isso quando
o ar fica pesado – mesmo hoje –
quando mãos antigas – ainda hoje –
se arrastam da invisibilidade
para agrilhoar os pulsos de quem vai à luta

dizemos Abril
a cumprir-se
em permanência

fazemo-nos Celeste Caeiro
a plantar esperança em tom vermelho-símbolo

com uma força
que não para de crescer-nos nos dedos

afastamos as sombras com a poesia a palavra
a alegria
a rua

e as canções sempre a rua sempre as canções

que cantaram
a possibilidade que escreveram

o princípio

e em seguida infinito

de uma

Liberdade libertada

por isso hoje pelos 50 anos

de um sonho lindo

quase acabado

por mais 50 dias-quase anos-cumpridos séculos de infinito

viva o 25 de Abril!

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